A doença que atingiu quase um milhão de brasileiros no ano passado e matou 572 voltou a causar preocupação. Em 2011, a dengue está se espalhando, e o JN no Ar decolou para a capital estadual que tem a maior infestação do mosquito transmissor.
Chegamos a Rio Branco no horário previsto depois de quase três mil quilômetros de viagem. De manhã, encontramos uma cidade mobilizada, com frentes de limpeza nas ruas, soldados do Exército nas casas e agentes de saúde em busca das larvas do mosquito. Mas o esforço não parece ser o bastante. As caixas d’água sem tampa se tornaram os principais focos do Aedes aegypti. Nos bairros mais pobres, a situação piora, porque o abastecimento precário obriga os moradores a manter reservatórios para coletar chuva, o que aumenta o risco.
Odalina está se tratando da dengue e não tinha percebido que a casa dela é um criadouro. “A situação é crítica. Tem que estar parando água da chuva para a gente sobreviver”, afirma a senhora.
A prefeitura e o Governo do Estado começaram um programa de distribuição de tampas, uma tela que evita a entrada dos mosquitos, mas o material acabou. O problema atinge toda a cidade, como dá para ver até perto de uma unidade de saúde.
Ao lado da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), há uma escola estadual. Os moradores denunciam que dentro da escola há três caixas da água sem tampa. O repórter Paulo Renato Soares confirma a denúncia. “Está assim desde o ano passado”, afirma uma moradora.
Segundo o Ministério da Saúde, 24 cidades brasileiras apresentam risco de surto de dengue. Em primeiro lugar no ranking, está Afogados da Ingazeira, em Pernambuco. Entre as capitais, Rio Branco está no topo da lista.
Uma rua do bairro Vitória não tem asfalto nem abastecimento de água. Os moradores ainda acumulam entulho e lixo nos quintais. A consequencia é que, em 17 das 18 casas ocupadas, as pessoas dizem que alguém da família já teve dengue. “Minha filha teve três, e o meu genro teve uma. E a minha outra filha teve uma, em questão de meses”, revela uma senhora.
“A gente está trabalhando com o empenho de toda a nossa comunidade. Eu tenho absoluta certeza que desta vez a gente vence esta parada”, aposta a secretária estadual de Saúde, Suely Melo.
No ano passado, os moradores de Rio Branco já enfrentaram uma epidemia como mostra o repórter da TV Acre, Jefson Dourado.
Em 2010, oito pessoas morreram no Acre por causa da dengue. Exatamente, há um ano, o garoto Matheus foi a primeira vítima. Ainda hoje, os pais sofrem com a perda do filho de apenas 10 anos. “Na vida da gente, não passa. Quem sente essa dor, quem passou por esta dor, nunca esquece”, comenta o pai do menino.
Em Rio Branco, os postos estão sobrecarregados, mesmo depois que um deles foi transformado em um centro exclusivo para receber pacientes com dengue. Só nele são 450 atendimentos por dia. Os mais debilitados ficam em macas e recebem soro. Os pacientes reclamam da falta de estrutura e da longa espera nas filas.
Muita gente ainda não pratica as recomendações básicas das autoridades sanitárias para evitar a dengue. As autoridades têm papel fundamental para combater a doença, mas evitar a dengue depende de todo mundo. O mosquito se reproduz principalmente nos períodos mais quentes e de muita chuva e em locais que acumulam água parada e limpa, como, por exemplo, pneus velhos e garrafas guardadas com a boca para cima. O pratinho do vaso de planta não pode ter água, tem que colocar areia. Alguns modelos de geladeira têm uma bandeja do lado de fora que acumula água também. Lixo no quintal, tampas e brinquedos podem virar criadouro do mosquito.
A situação é mais crítica em Rio Branco, porque, segundo o IBGE, 55% das residências não estão ligadas à rede de água. Por isso, os moradores têm muitos recipientes em casa para tentar guardar água da chuva e até de caminhões-pipa. A Secretaria Estadual de Saúde informou que já providenciou um novo lote de tampas d’água, mas ainda negocia uma forma de levar esse material para a cidade.
Números divulgados ontem (26) pelo Ministério da Saúde confirmam o problema. O Acre é o Estado com o maior número de notificações de casos suspeitos. Até o último dia 22, foram 4.773.
Fonte: G1 e Contilnet
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