Um projeto de R$ 6,2 milhões que pretende levar internet de graça para todas as regiões urbanas do Acre esbarra em problemas na instalação e qualidade de conexão. Lançado em fevereiro de 2010, o Floresta Digital já possui cobertura completa em toda a cidade de Rio Branco e em mais 14 municípios – ainda restam sete. Entre os que já usam o serviço, contam-se aqueles que, mesmo com acesso, preferem frequentar lan houses.
Com seis torres instaladas em órgãos públicos de Rio Branco e 180 equipamentos de transmissão, a cidade já possui sinal de internet wi-fi em toda sua região. Porém, a rede sem fio só consegue ser acessada nos 500 metros em torno dos pontos. Por isso, os moradores que querem colocar web gratuita em casa precisam comprar uma antena com apenas uma entrada USB – para um computador –, que custa cerca de R$ 200.
Para instalar a antena em casa, o usuário precisa contratar um técnico. O governo apenas disponibiliza canais para que o cidadão faça a sua reclamação e telecentros, que ajudam os usuários a usar a internet. “Muitas casas colocam a antena de uma forma errada. Ou ela está torta, ou está apontando para baixo ou para a direção errada”, explica Rodrigo Souza, coordenador do Floresta Digital.
Aldecy Mendonça Soares, de 40 anos, e Lúcia Regina Soares, 33, reclamam da qualidade de conexão. Eles compraram a antena do Floresta Digital em novembro de 2010, porém, até agora, mal conseguiram usar. “Estamos tendo que ir em lan house. Quando a internet entra, fica disponível por 30 minutos, depois já cai”, diz Aldecy. O casal, que antes compartilhava internet banda larga com outro vizinho que se mudou, chega a ficar mais de três semanas sem entrar na rede.
Lúcia diz que já perdeu trabalho por causa da instabilidade da internet. “Hoje em dia, nem abrimos mais porque sabemos que não vai funcionar”, diz. “Estamos pensando em comprar um modem de uma operadora. Sinto falta de ter internet em casa. Sempre leio notícias e escuto música”, conta Aldecy. Eles contam que os vizinhos mais próximos entram 100% na web, sem problema algum. A casa deles está muito próxima a um ponto de transmissão. O problema está na má instalação da antena, que foi feita por um técnico que jamais voltou para consertar o problema.
Evanisse Correia da Silva, de 26 anos, instalou o Floresta Digital há quatro meses e nunca teve problemas. Morando em um bairro sem saneamento básico, Evanisse conta com internet desde que comprou seu primeiro computador. Ela viu a necessidade de estar conectada depois que voltou a estudar. “Eu nunca tinha entrado na web antes. Não tinha e-mail, nem Orkut e MSN”, conta.
Para se comunicar com os amigos, Evanisse usava apenas o celular. “Todo mundo que eu conheço mora muito perto”, explica. Na escola de Ensino Médio, os professores pedem que os alunos realizem pesquisas na web. Para não ir em lan house, Evanisse optou por comprar um PC. Mas boa parte de seus colegas ainda não têm o aparelho em casa.
Mesmo com o Floresta Digital no quarto, Angelina Ferreira da Silva, de 19 anos, ainda prefere passar o tempo na frente da TV. “Como não é sempre que a rede está rápida, prefiro assistir a programas na televisão”, conta a estudante, que ainda não criou uma conta de e-mail. O marido instalou o Floresta Digital em casa como sugestão do vizinho, que disse que a internet "pegava" muito bem. “Mas já ficamos alguns dias sem acessar. Quando chove, não conseguimos entrar de jeito nenhum”, diz.
Mirla da Silva Moreira, de 27 anos, tem uma lan house em Rio Branco há 5 anos e o movimento no local ainda é muito bom. “Em alguns horários, chega a ficar sem espaço disponível”, conta. “Acho que o Floresta Digital não supriu todas as necessidades do público. Muita gente ainda vem na lan house para baixar arquivos que não consegue fazer em casa, porque a internet é lenta”, conta.
Rio Branco conta com duas operadoras que oferecem internet banda larga via fibra ótica. “A ideia não é tomar o mercado da banda larga”, afirma Aldecir Júnior, diretor de tecnologia e comunicação da Secretaria de Gestão Administrativa. “O Floresta Digital foi criado para combater a exclusão digital e levar internet gratuita à população”, completa. “Temos que pensar no ineditismo do projeto. Não tem nenhum outro exemplo com quem possamos nos comparar”, diz Júnior.
Até as 23h de domingo (8), havia mais de 39 mil pessoas cadastradas e aptas a usar o Floresta Digital. Conforme Júnior, o projeto registra, em média, 12 mil usuários usando o serviço por dia. “Qualquer pessoa pode se cadastrar no Floresta Digital, inclusive turistas e estrangeiros. Ela deve apenas ir em um telecentro e fornecer os seus dados para criar um login”, explica Júnior.
Mesmo com a afirmação de que Rio Branco tem 100% de cobertura wi-fi, ainda não é possível acessar a rede por meio de aparelhos móveis em qualquer lugar. Em apenas 15 pontos da cidade o usuário consegue entrar na rede pelo notebook ou celular. São lugares de grande circulação, como praças.
Em casa, o Floresta Digital também pode ser instalado como um ponto wi-fi para que mais de um aparelho consiga usar a rede. Para isso, em vez da antena, o usuário deve comprar um equipamento com roteador, que custa cerca de R$ 400. Conforme os coordenadores do projeto, prédios também podem puxar o sinal do Floresta. Mas como Rio Branco ainda não tem muitos prédios, nenhum até agora fez isso.
Por enquanto, o Floresta Digital recebe a internet por fibra ótica e distribui para as pessoas via rádio. Porém, um anel de fibra ótica já foi instalado na cidade. “Estamos aguardando uma licitação para que o anel comece a funcionar. Acredito que em 90 dias isso deve acontecer”, diz Júnior. Ele afirma que, a partir disso, todas as casas receberão internet pela fibra ótica, com menos interferência que o sistema de rádio, que passaria, então, a ser usado apenas como segunda opção.
Escolas
Para disseminar o sinal, os 180 equipamentos do Floresta Digital foram instalados em órgãos públicos, como escolas estaduais. Porém, muitas dessas escolas receberam a internet mas ainda não contam com o acesso à rede em seu laboratório de informática. “Os alunos sempre perguntam: ‘tia, quando vamos ter internet?’. Eles sentem muita falta disso”, conta Raimunda Trindade, coordenadora administrativa da escola de ensino fundamental Iza Mello.
Para disseminar o sinal, os 180 equipamentos do Floresta Digital foram instalados em órgãos públicos, como escolas estaduais. Porém, muitas dessas escolas receberam a internet mas ainda não contam com o acesso à rede em seu laboratório de informática. “Os alunos sempre perguntam: ‘tia, quando vamos ter internet?’. Eles sentem muita falta disso”, conta Raimunda Trindade, coordenadora administrativa da escola de ensino fundamental Iza Mello.
O equipamento do Floresta Digital foi colocado na escola no final de 2010, mas o laboratório de informática das crianças ainda não está conectado. Segundo Júnior, o acordo prevê que a responsabilidade de levar internet para dentro das escolas é da secretaria de Educação.
Já na escola Belo Jardim, uma parceria com o governo levou internet ao laboratório no final de 2010. “Fizemos uma pesquisa na comunidade e constatamos que 90% das casas não tinham PC”, diz a diretora da escola, Suelange Horácio. Os computadores também podem ser usados pelos adultos, como pais e ex-alunos, em alguns horários específicos. “Como a grande maioria não sabe mexer no computador, estamos organizando cursos de informática para os pais”, completa.
Suelange acredita que a internet aumenta a dinâmica em aula. “As crianças têm muito mais interesse de fazer pesquisas no computador do que em livros”, explica. “Pela web, você tem disponível tanto o conteúdo teórico, como imagens e vídeo”.
Tomara que esse tal anel já comece a funcionar, pois esse projeto não foi de graça, pelo contrário ele está saindo muito caro. Vejo que era apenas uma estratégia para ganhar votos.
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